Nosso artista nos deixou
- Aos 87 anos, morre Ernesto Frederico Scheffel
- 20 de jul. de 2015
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Poderia ser o último adeus, mas não é. Nunca será. Se a vida deixou o corpo de Ernesto Frederico Scheffel na madrugada do dia 16 de junho de 2015, a sua alma ficará em cada obra que nos deixou, em cada pincelada sobre tela, em tudo que tocou. Internado em Porto Alegre desde o início do ano, lutando contra o câncer, Sheffel enfim descansou.
Antes de deixar o corpo terreno, ao menos Fritz, como era carinhosamente chamado pelos amigos, viu talvez um dos seus maiores sonhos e motivos de luta virar realidade.
Ouviu da voz da presidente Dilma Rousseff, por telefone, que o Centro Histórico de Hamburgo Velho, pelo qual lutou desde os anos 80, seria reconhecido como Patrimônio Histórico Nacional. Mas, mais do que isso, a presidente também contou a ele que seu acervo artístico também estaria reconhecido a partir daquele momento. Para quem o conheceu, a impressão é de que Ernesto partiu com a sensação de dever cumprido e com a tão merecida paz, mesmo com as dificuldades lhe impostas pela doença.
Para Novo Hamburgo, fica a sensação de vazio. Da perda do seu maior artista, do nome mais importante que a cidade já carregou. Morte anunciada por uma semana inteira cinza, acompanhadas de intensas lágrimas dos céus, que se misturam à dos familiares, amigos e admiradores aqui deixados.
A história por trás do mito
Um dos assuntos favoritos de Scheffel nas rodas de conversa era os mitos e a forma que os usávamos para mistificar nossas vidas. E justamente ele deixa a condição de humano para transpor a condição de mito.
O menino de origem germânica nascido a oito de outubro de 1927, em Campo Bom, dedicou toda sua vida às artes. Em sua autobiografia, contou como, desde que se podia lembrar, seu talento artístico ficava evidente a familiares ou a qualquer um que o conhecia, mesmo que até então, entre os três e oito anos, sua arte se resumia a desenhar com paus de fósforos sobre a areia.
Foi no Pindorama onde o menino artista encontrou o Prof. Ernesto Bernhoeft, que o solicitou a pintar a casa do então Prefeito Dr. Odon Cavalcanti. Em seguida, no ano de 1941, foi matriculado na Escola Técnica Parobé e Instituto de Belas Artes de Porto Alegre, com o apoio do Governo do Estado. A iniciação musical de Scheffel parte em 1949, por sua iniciativa.
Nos anos 50, fixou-se no Rio de Janeiro, como discípulo e assistente do grande pintor Oswaldo Teixeira, diretor do Museu Nacional de Belas Artes. Nesse período, recebeu diversos prêmios, que inclusive lhe permitiram viajar pelos principais países da Europa estudando artistas, até chegar à Itália, onde decidiu se estabelecer.
Os anos 60 foram de muita produtividade artística. Além das pinturas, dedicou-se à pratica da escultura e intensamente à composição musical, música de câmara e orquestração. Para Scheffel, sua vida criativa se completava com um ateliê: um cavalete para a pintura e um piano para a composição musical.
Em 1974, durante a homenagem aos 150 anos da presença alemã no RS, Scheffel é convidado para expor em Novo Hamburgo. No mesmo ano, a Prefeitura de Novo Hamburgo e o artista assinam um contrato que resultou na aquisição e restauração de um prédio de valor histórico e artístico em Hamburgo Velho, que, naturalmente, transformou-se no Museu Scheffel, atualmente a maior pinacoteca de um mesmo artista, onde estão mais de 400 de suas obras, arquivo histórico, e também a sua última morada e local do seu velório.
Nos anos 80, cria o 'Movimento de Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico', em Hamburgo Velho, na forma de voluntariado. Este movimento já havia sido iniciado pelo artista na Páscoa de 1975, quando ele conseguiu impedir a demolição da Casa Schmitt-Presser, hoje, Museu Comunitário de Novo Hamburgo. Já nos anos 90, recebeu do então governador, Antonio Brito, a “Medalha Embaixador do Rio Grande – Brava Gente”.
Dos anos 2000 até antes de ser acometido pelo câncer, Ernesto Frederico Scheffel continuou se dedicando exaustivamente à pintura, à escrita e à composição musical, expondo na Itália e Alemanha. Em 2013, lançou a sua autobiografia: Scheffel Por ele mesmo, fruto de anos de dedicação e que reúne em suas 386 páginas parte de sua auto-crônica, além de mais de 400 imagens de suas obras.
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