Aeroclube de Novo Hamburgo: uma história de homens e aviões
- Jornal Canudos

- 25 de jun. de 2015
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Em 1947 começava a funcionar o Aeroclube de Novo Hamburgo. O avião, na época, era uma invenção recente e sua utilização era uma verdadeira aventura. Os tempos, tranquilos, possibilitavam que pessoas como Pedro Adams Neto, Egon Scheffell e Bayard de Toledo Mércio, para falar de alguns fundadores, colocassem em prática o plano de fundar um Aeroclube em Novo Hamburgo, pois a convivência com o grupo do Aeroclube de São Leopoldo não era das melhores, e exigia um clube próprio. Isso foi resolvido com a escolha de um terreno para servir de sede em Canudos, na Rua Ana Terra, 10.
No mesmo ano da fundação chegou o primeiro avião, um CAP-4, e com isso iniciava-se uma longa jornada de aquisições e doações para se chegar ao acervo que a entidade possui hoje. Essa coleção encontra-se no hangar do clube, onde as diversas fases da manutenção e melhorias nas aeronaves são realizadas por técnicos que colocam toda a paixão no que fazem.
Mas o folclore faz parte da história do Aeroclube. Relatos contados por quem estava presente, ou simplesmente repassados por quem conhecia os personagens. Uma das mais interessantes é a da compra da aeronave Fairchild PT-19. Parte da diretoria estava hesitante quanto a essa aquisição, pois a aeronave consumia muito combustível. O avião estava no Aeroclube do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Um piloto, Régis Schaumann, pediu para dar uma “voltinha” no avião. Decolou e foi direto para Novo Hamburgo, onde já estavam sendo esperados por Gilberto Fick, com o hangar aberto para receber o avião. Então não restou opção à diretoria do Aeroclube de Novo Hamburgo: tiveram que adquirir a aeronave.
Uma outra curiosidade se prende ao fato da telefonia, naqueles tempos, ter somente telefones fixos, e em número reduzido, o que era um transtorno quando alguém queria ligar para o Aeroclube ou vice-versa. Durante algum tempo o problema foi resolvido pelo Sr. Oscar Horn, um comerciante que possuía um aparelho em seu estabelecimento e que transmitia recados para o Aeroclube, facilitando o seu telefone quando algum membro necessitava. É importante lembrar de um pequeno detalhe: entre o Aeroclube e o estabelecimento do Sr. Horn existia uma distância de quatro quilômetros.
Para encerrar com chave de ouro o folclore do Aeroclube, tem a história da viagem para trazer o Cesna 172, um avião comprado direto da fábrica, em Wichitta, no Kansas (EUA). Como o avião era novo, tinha de ser uma dupla de pilotos com a mais alta qualificação. Foram escolhidos Harro Schmidt, que na ocasião era presidente do Aeroclube, e o instrutor de voo Vitor Hugo Matte, o melhor de sua área. A viagem até os EUA foi normal e o retorno foi ainda melhor, comprovando o profissionalismo dos pilotos hamburgueses, apesar de na época os voos usarem apenas a bússola para se orientarem. Logo depois dessa viagem, as solicitações de trabalho para os aviadores do Aeroclube aumentaram e diversos voos foram realizados.
“A paixão pelo voo acontece só com algumas pessoas especiais, e que seguem uma vocação própria. É algo que está na alma de cada um, acontece e pronto. Você não pode (e nem deve) resistir”, explica Alceu Feijó Filho, atual presidente do Aeroclube.
“Comigo mesmo já aconteceu de ir de encontro a coisas que são muito importantes na vida das pessoas, como a vontade paterna ou a sedução de uma profissão mais vantajosa, por exemplo. Resolvi seguir minha vocação e hoje não me arrependo nem um milímetro. Estar voando representa uma realização pessoal, e isso não há dinheiro que pague”, completa.
Com o brilho no olhar que só as crianças possuem, quando satisfeitas ou encantadas, Feijó nos leva ao hangar do Aeroclube de Novo Hamburgo para apresentar seus aviões. Alguns em manutenção, outros apenas descansando das aventuras acontecidas, mas todos eles com uma história a ser contada.
A vida de quem gosta de voar está ligada, de forma definitiva, ao Aeroclube. Desde os tempos pioneiros, na década de 40, até os dias atuais, vários exemplos consolidam essa realidade. O Aeroclube de Novo Hamburgo foi construído por idealistas, por apaixonados pela arte de voar, de estar nos céus, mesmo que por algumas horas ou minutos. Por isso, tornou-se algo que está na vida dos hamburgueses, de ontem, de hoje e de sempre.












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