Espiritismo com Francisco Battisti: Vida e Ilusões
- Jornal Canudos
- 2 de jun. de 2015
- 3 min de leitura

A criatura humana, que modela suas reações emocionais através dos critérios dos outros, estabelece para si própria metas ilusórias na vida. Constantemente, criamos fantasias em nossa mente, bloqueamos nossa consciência e recusamos aceitar a verdade. Usamos os mais diversos mecanismos de defesa para evitar ou reduzir os fatos de nossa vida que nos são inadmissíveis. A negação é um desses mecanismos psicológicos: ela aparece como primeira reação diante de uma perda ou de uma derrota. Portanto, negamos, a fim de amortecer nossa alma das sobrecargas emocionais.
Um exemplo clássico de ilusão é a tendência exagerada de certas pessoas em querer fazer tudo com perfeição, aliás, querer ser o ”modelo perfeito”. Essa ilusão as coloca em situação desesperadora. Trata-se de um processo neurótico que faz com que elas assimilem cada manifestação de contrariedade dos outros como um sinal de seus fracassos e a interpretem como uma rejeição pessoal.
O perfeccionismo é, por certo, a mais comum das ilusões e, inquestionavelmente, uma das mais catastróficas quando interfere nos relacionamentos humanos. Uma pessoa perfeita exigirá apenas companheiros perfeitos.
A sensação de que podemos controlar a vida de familiares, parentes e amigos também é uma das mais frequentes ilusões e, nem sempre, é fácil diferenciar a ilusão de controlar e a realidade de amar e compreender. Esse controle se transforma, com o passar do tempo, em um nó que estrangula, lentamente, as mais queridas afeições. Se continuarmos a manter essa atitude manipuladora, veremos em breve se extinguir o amor dos que convivem conosco. Eles poderão permanecer ao nosso lado por fidelidade, jamais por carinho e prazer.
Escolhemos amizades inadequadas, não analisamos suas limitações e possibilidades de doação, afeto e sinceridade e, quando recebemos a pedra da ingratidão e da traição por parte deles, culpamo-los. Esquecemo-nos de que somos nós mesmos que nos iludimos, por querer que as criaturas deem o que não podem e que ajam como imaginamos que devam agir.
Gostamos de alguém imensamente e alimentamos a ideia de que este mesmo alguém pudesse corresponder ao nosso amor e, assim, criamos sonhos românticos entre fantasias e irrealidades. As histórias infantis sobre príncipes encantados socorrendo lindas donzelas em perigo são úteis e benéficas, desde que não se transformem em ilusórias bases da existência.
As ilusões que criamos servem-nos, de certa forma, de defesas contra nossas realidades amargas. Embora possam, por um lado, nos poupar das dores momentaneamente, por outro, nos tornam prisioneiros da irrealidade. Para possuir uma mente sã, é preciso que tenhamos a capacidade de aceitação da realidade, e não fugirmos dela.
Muitos de nós conservamos a ilusão de que a posse material proporciona a felicidade; de que o poder e a fama garantem o amor; de que a força bruta protege de uma possível agressão; e de que a prática sexual dá uma integral gratificação na vida.
Não será fácil renunciarmos a essas ilusões se não nos conscientizarmos de que a alegria e o sofrimento não estão nos fatos e nas coisas da vida, mas sim na forma como os percebemos.
Este pequeno ensaio sobre o tema poderá servir como um incentivo na busca de uma vida mais simples, baseada no convívio fraterno e amoroso com os nossos irmãos de caminhada, compreendendo que a arte da convivência, principalmente com aqueles que pensam e agem diferente de nós, é uma construção particular e inadiável.
Lembremos o que Jesus nos fala sobre a verdadeira caridade: “Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e perdão das ofensas”.
Comments