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Hamburgo Velho será patrimônio de todos os brasileiros

  • Foto do escritor: Jornal Canudos
    Jornal Canudos
  • 12 de mai. de 2015
  • 4 min de leitura

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Depois de mais de 40 anos de luta, iniciada pelo artista plástico Ernesto Frederico Scheffel e pela historiadora e pesquisadora Ângela Sperb, a notícia veio no domingo: o Centro Histórico de Hamburgo Velho será tombado como patrimônio histórico brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Mas a notícia não veio de qualquer forma. Foi a própria presidente da República, Dilma Rousseff, que ligou para o artista e informou.

Dilma salientou que cuidou pessoalmente do assunto, depois de conhecer o trabalho e a luta de Scheffel. Foi Carlos Araújo, ex-marido da presidente, que apresentou a autobiografia de Scheffel a Dilma, que também desejou melhoras ao artista, após saber que ele se recupera da mesma doença pela qual a líder da nação já passou: um câncer.

Reconhecimento histórico

Se a luta começou com Ernesto Scheffel e Ângela, muitos outros se juntaram a ela. “Foram eles que deram início, mas a Fundação tomou à frente dessa luta, que muitas vezes foi árdua, mas agora reconhecida”, explicou o curador do Museu Scheffel, Angelo Reinheimer. O curador, juntamente com Angela, foi o responsável por realizar todo o inventário histórico do Centro Histórico.

O minucioso trabalho demorou anos a ser concluído, e envolveu pesquisas em acervos de museus, busca de registros fotográficos e da história de cada uma das edificações que fazem parte do agora tombado corredor cultural. A repercussão foi proporcional ao tamanho da luta”, destacou Reinheimer.

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Além de construções

Ainda comemorando o reconhecimento, o curador destaca que o tombamento vai ao encontro do que as pessoas mais buscam. “A Fundação esteve na vanguarda desse momento atual. Cada vez mais a humanidade busca a felicidade. Preservar Hamburgo Velho, reconhecer a sua importância para o desenvolvimento do Brasil, é buscar preservar a memória, o bem-estar e a felicidade do povo”, declarou o curador do Museu.

Tombamento provisório

Há alguns anos, o corredor cultural da região, que vai da Rua General Osório até a Praça 20 de Setembro, já havia sido tombada provisoriamente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul (IPHAE). Quando uma área é reconhecida como área de preservação cultural, há uma série de regras quanto à alterações de edificações. Para isso, a Secretaria de Cultura de Novo Hamburgo deveria ter informado aos proprietários sobre o tombamento provisório, o que não aconteceu.

Comunidade comemora

Um dos grupos que mais comemorou o anúncio foi o Coletivo Consciência Coletiva, que realiza manifestações e intervenções artísticas na cidade buscando a preservação do patrimônio cultural da cidade. Jorge Stocker, membro do coletivo e também vice-presidente da Defender – Defesa Civil do Patrimônio Histórico RS, comentou o assunto. “Recebemos a notícia com esperança, pois esperamos a efetivação do tombamento nacional desde 2009. O período de estudo de tombamento tem sido muito conturbado, e neste espaço de tempo muita coisa se perdeu, devido a falta de preparo do município para fazer a gestão do patrimônio. A atuação mais intensa do IPHAN em Novo Hamburgo é necessária para motivar o município a cumprir seu papel como agente de preservação. Hamburgo Velho teve um dos movimentos vanguardistas da sociedade civil em defesa do patrimônio cultural. Será muito positivo ver finalmente o poder público reconhecendo esse espaço já consagrado pela comunidade há décadas”, explicou Stocker.

Patrimônio perdido

Até 2009, Novo Hamburgo possuía um inventário de seu patrimônio histórico. Porém, naquele ano, ele foi retirado do plano diretor da cidade. Desde então, quase 50 prédios históricos já foram derrubados. Um desses patrimônios foi a Casa Koch, que também estava em estudo de tombamento nacional. Na foto, o Coletivo realiza um funeral simbólico da casa.

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A última grande obra

Entre 1922 e 1923, Hamburgo velho passou pela sua “última grande obra de infraestrutura”. Foi o rebaixamento da rua, que exigiu que as casas da região tivessem que construir um andar a mais para baixo. É o caso do museu Schmitt Presser e da própria Fundação Scheffel. Nas fotos, a obra de 1923 e as duas casas atualmente.

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Evangelisches Stift

Fundada em 1886, a Evangelisches Stift, ou Fundação Evangélica, abrigava meninas em sua escola/internato. O prédio histórico começou a ser reformado em janeiro de 2013. A previsão de término era em julho de 2014, porém a Operação Capivara, do Ministério Público, descobriu um esquema de corrupção. Segundo o procurador da República Celso Tres, a ex-diretora de Compras e Licitações da Prefeitura admitiu o crime quando declarou que pedia dinheiro a empreiteira para campanha política.

A obra, que custou mais de R$ 2,5 milhões, foi paralisada. Desse total, R$ 1,6 milhão viriam do governo federal, porém, com a descoberta do esquema de corrupção, o IPHAN cancelou o envio de dinheiro.

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Pubis

Considerada a segunda casa mais antiga de Novo Hamburgo, de 1840, a Casa Kayser hoje abriga um pub que mistura em seu ambiente a cultura musical com a história da própria cidade, contada em cada pedaço de madeira restaurado ou em sua estrutura rústica. Segundo Rafael Roos, proprietário do bar, a restauração durou dois anos. “A estrutura estava em ruínas, mas minha mãe se encantou pela história dessa casa. Arquitetos e engenheiros falaram que não valia a pena, falavam para botar abaixo, queimar a casa”, explicou. Rosangela Slonp, que também faz parte dos amigos da Fundação Scheffel, utilizou apenas recursos próprios na restauração. Para Rafael, o tombamento é um momento especial. “O ponto principal é a restauração. Vai impedir que aconteça algo que sempre aconteceu muito em Novo Hamburgo, que é a derrubada de prédios históricos. O outro fator é o turismo, que deve aumentar, dando a Hamburgo Velho o reconhecimento que realmente merece”, opinou.

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